A - Mais Regiões

Quem tem fé vai de carro: Reitor do Bonfim sugere carreata na lavagem de 2021

Por conta da pandemia, tradicional cortejo da festa poderá sofrer mudanças

A Lavagem do Bonfim de 2021 deverá acontecer de uma maneira bem diferente daquela que os fiéis estão acostumados, por conta da pandemia de covid-19. Embora ainda não esteja nada definido, os organizadores da festa já pensam em alternativas ao tradicional cortejo  entre a Conceição da Praia, no Comércio, e a Colina Sagrada. O padre Edson Menezes, reitor da Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, disse nesta quinta-feira, 13, durante a inauguração do Caminho da Fé, na Cidade Baixa, que pensa em realizar uma carreata com a imagem do padroeiro.

“As coisas estão incertas. Vamos ter uma resposta da prefeitura a respeito de quando nós devemos definir o que pode e o que não pode. O Carnaval praticamente já definiu. Acredito que será do mesmo modo, alterar a procissão e a lavagem. Estou pensando em uma carreata com a imagem do Senhor do Bonfim. Mas tudo tem que ser discutido para não haver aglomeração”, disse o padre.

Padre Edson acrescentou que a programação já está sendo pensada, com possibilidade das atividades dentro da igreja serem transmitidas pelas redes sociais. 

“Ainda não há nada definido, mas certamente tudo acontecerá respeitando as orientações e o protocolo que o prefeito determinar”, destacou. “Estou pensando em propor que durante  o período da novena as pessoas venham e façam seus pedidos, porque não posso deixar para um dia só”, acrescentou.

Ainda segundo o reitor do Bonfim, os diálogos com a prefeitura  não começaram oficialmente, mas  a solicitação já foi encaminhada ao prefeito. “A saída da imagem em um carro é uma possibilidade. Falei com o prefeito para que a gente comece a conversar a respeito do que pode acontecer. É algo parecido com aquilo que fizemos no início da pandemia. Para ser uma carreata de fato vamos precisar analisar, tem várias regras, quantidade de pessoas em carros, será preciso ouvir várias autoridades. O prefeito já me disse que indicará as pessoas necessárias para que a gente possa começar um diálogo”. 

Cuidados extras

Quem é devoto do Senhor do Bonfim entende que a festa de 2021 precisa mudar, como já mudou a rotina da igreja. 

“É realmente muito difícil ter uma previsão, é a festa maior, o inicio dos festejos na Bahia. Nós temos o maior cuidado com as pessoas, estamos obedecendo à risca o protocolo municipal, porque somos responsáveis pelos nossos fiéis. As pessoas vão muito ao Bonfim e grande parte é grupo de risco, pessoas mais velhas. Temos tratado com a maior responsabilidade”, disse José Francisco Pitanga, presidente da Devoção ao Senhor do Bonfim.

À frente do grupo que já tem mais de 200 anos de história, ele conta que o planejamento para as festas do Bonfim começam cedo. “Na festa do próximo ano, estamos planejando as questões internas, o culto, a novena que vai precisar obedecer todos os cuidados. O planejamento da festa do ano seguinte começa depois que passa a anterior. Como provavelmente ainda vamos precisar de medidas de segurança, vamos fazer como foi feitono caso do Caminho da Fé, utilizar redes sociais, pensar em formas de louvar o senhor do Bonfim e proteger os seus fiéis”, acrescentou.

Devota do Senhor do Bonfim, a aposentada Beth Mascarenhas, que vai à festa todo ano, não tem dúvidas de que o santo será celebrado da forma que for possível sem abalar sua fé.

“Senhor do Bonfim vai ser festejado de uma maneira que proteja as pessoas. Cada casa é uma igreja nesse momento. Mesmo que a festa não aconteça do jeito tradicional, ela vai acontecer com a mesma força de sempre. O importante é a fé e quando tudo isso passar vamos voltar à colina para agradecer, agradecer pela vacina que vai chegar, pela vida de quem conseguiu passar por toda pandemia com saúde”, espera ela. 

Mudanças nunca foram tão radicais

A festa que acontece há mais de 200 anos nunca mudou tanto quanto mudará caso precise acontecer em forma de carreata. Ao longo da história, as mudanças na festa não alteraram a forma da celebração:  “Esse momento é um momento único na história. Nunca tivemos uma transformação de tamanho impacto ao longo desses anos, desde o século XIX até a atualidade. Mas é interessante observar que toda festa popular, de rua, passa por mudanças ao longo da história, que são mais sensíveis, no ponto de vista religioso, político, e de espaço urbano, da forma como as pessoas veem e participam da festa”, explica o historiador Rafael Dantas

“Uma dessas mudanças, é a forma como era vista a associação da festa com o candomblé. No passado, isso não era bem visto, era criticado pelas elites religiosa e política. Não era algo visto com bons olhos, mas isso foi ganhando força e corpo, com o passar do tempo, especialmente ao longo do século XX”, diz o professor sobre o sincretismo religiosa que acompanha a festa com símbolos como o uso da roupa branca.

A festa também mudou, segundo o especialista, quando passou a ser vista como um símbolo do estado, “Outra mudança que veio a partir da metade do século XX é que a festa começou a ser divulgada como característica da cultura baiana, de um elo da cultura baiana, isso começou a ser vendido pelo turismo. O Senhor do Bonfim já teve até trio elétrico, o que hoje não tem mais”, completa.

Fonte: Correios.

Redação

Site Protection is enabled by using WP Site Protector from Exattosoft.com