Política

Invasão de vândalos em Brasília: Flávio Dino diz que já identificou financiadores dos atos golpistas em 10 estados

O levantamento da ação dos golpistas é por imagens de câmeras de segurança da Esplanada dos Ministérios e de drones usados pela polícia durante a invasão – além de pesquisa nas redes sociais.

Milhares dos vândalos que viajaram a Brasília não precisaram se preocupar com os gastos. Por trás do atentado contra a democracia, houve financiadores e também estimuladores que insuflaram a tentativa de golpe.

As prisões em flagrante aconteceram nas ruas e no Palácio do Planalto, a STF-Supremo Tribunal Federal e Congresso Federal e Congresso Nacional. Imagens mostram policiais militares prendendo e algemando os golpistas dentro do Planalto. Segundo a Polícia Civil, no domingo (8), 300 terroristas foram detidos e identificados; 209 ficaram presos, depois de autuados e devem responder por crimes como golpe de estado, dano a bens públicos, lesão corporal, associação criminosa e porte de arma.

Na manhã desta segunda-feira (8), os criminosos foram transferidos para dois presídios do Distrito Federal.

No Congresso, a Polícia Legislativa prendeu 44 golpistas: 39 no Senado e 5 na Câmara. Eles passaram a noite detidos no próprio Congresso. Ao longo do dia, também foram transferidos para os presídios. E os investigadores seguem em busca de outros criminosos.

Imagens de câmeras de segurança da Esplanada dos Ministérios, de drones da polícia e vídeos divulgados pelos próprios invasores, estão sendo usados para reconstituir a ação e identificar um a um os autores.

Os golpistas usaram amplamente aplicativos de mensagens para convocar para o movimento terrorista. Diversas imagens capturadas em grupos bolsonaristas mostram como eles articularam a ação em Brasília, e comprovam que os ataques foram premeditados.

Uma das mensagens diz: “Tomada de Brasília”. Logo em seguida, os autores escreveram: “Não há previsão de data de retorno”. Em outra foto, os organizadores afirmam: “A ordem agora é acampar dentro do Congresso, Planalto e STF”. Em grupos radicais, circularam mensagens com informações sobre diversas caravanas que sairiam com destino a Brasília e o contato dos responsáveis pelos ônibus.

O Ministério da Justiça tem pressa em identificar os patrocinadores dos golpistas. A TV Globo apurou que nos depoimentos, presos afirmaram ter recebido financiamento para participar dos ataques em Brasília e que em muitos casos, o patrocínio veio de estados eles não moram, como Pará, Rondônia e Mato Grosso.

Nos depoimentos, alguns dos presos contaram que as ofertas de dinheiro para participar dos atos de vandalismo foram feitas em grupos de aplicativos de mensagens. A TV Globo teve acesso a um desses depoimentos. O preso contou à polícia que veio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em uma caravana com pessoas de diversas cidades “sendo que não foi cobrada a passagem”.

Na decisão em que afastou o governador Ibaneis Rocha, o ministro Alexandre de Moraes já havia mencionado a importância de se identificar e processar os financiadores dos atos terroristas. A história mostra que é uma estratégia eficiente.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse nesta segunda-feira (9) que mais de uma dezena de mandados de prisão foram expedidos contra os golpistas, incluindo possíveis patrocinadores. A Polícia Federal identificou financiadores em ao menos dez estados.

“Não é possível ainda distinguir nitidamente responsabilidades quanto ao financiamento. O que é possível afirmar cabalmente é que havia financiamento. Nós temos a relação de todos os contratantes dos ônibus, todas essas pessoas serão chamadas a prestar esclarecimentos, porque são pessoas que contrataram ônibus que não eram para excussões turísticas. O que eu posso acentuar, frisar, realçar é que, seja quem for, os financiadores serão chamados a responsabilização penal e civil”, afirmou Flávio Dino.

O ministro da Justiça disse que, além do inquérito das fake news e dos atos antidemocráticos, outros três serão abertos no Supremo Tribunal Federal sobre as invasões ao Palácio do Planalto, ao próprio STF e ao Congresso.

“Serão três inquéritos conduzidos pela PF e no curso desses inquéritos que haverá a investigação sobre os financiadores, sobre os instigadores, sobre os autores intelectuais e haverá, como mencionei há pouco, eventualmente, novos pedidos. Aí não mais de prisão em flagrante. A situação de flagrância se esgotou e agora nós estamos tratando de outros dois tipos de possíveis prisões, possíveis. Prisões temporárias, que são prisões para aprofundar as investigações, 5 dias a princípio, ou prisões preventivas para garantia da ordem pública e assegurar o cumprimento da lei penal”, explicou Dino.

Flávio Dino afirmou que os atos terroristas de domingo (8) foram resultado do ódio disseminado no país.

“Nós vimos a manifestação de um ódio contra instituições que foram tão duramente atacadas nos últimos anos. A exemplo do Supremo Tribunal Federal. As senhoras e os senhores que viram imagens, a nação brasileira que viu imagens, viu a materialização e o efeito do discurso de ódio que não era anedótico, como nós alertamos esses anos todos. Palavras têm poder e essas palavras se transformaram em ódio e destruição. Mas esta é outra cadeia de responsabilidade que não é propriamente jurídica ainda, que é uma responsabilização política. Porque há pessoas, líderes políticos, que são responsáveis pelo discurso de ódio e pela destruição que nós vimos ontem na sede dos Três Poderes visando um golpe de Estado”, afirmou o ministro da Justiça.

Em entrevista à GloboNews, o secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, disse que os golpistas produziram provas contra eles mesmos. E que até as três da tarde desta segunda, o governo já havia recebido mais de 30 mil denúncias sobre financiadores, organizadores e participantes dos atos golpistas.

“Nós estamos numa situação bastante atípica, em que aquelas pessoas que praticaram uma série de crimes gravíssimos, a imensa maioria dessas pessoas acabou produzindo provas contra si mesmas. Porque fizeram gravações, publicações ao vivo, lives enquanto praticavam os crimes. E inclusive, toda a questão que envolveu o financiamento e o dinheiro, optaram por publicizar isso. Portanto, neste momento, a investigação, tanto a PF quanto os canais de denúncias, estão partindo inicialmente dessas imagens produzidas pelos próprios criminosos, mas também por uma investigação normal a partir do serviço de inteligência e as equipes da polícia estão trabalhando”, disse.

Fonte: G1

Redação