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‘Carne salgada’: alta do preço da proteína do boi afeta bolso dos consumidores

Em Salvador, é possível encontrar o produto com valores até 35% mais caros

Não coma carne. A menos que você esteja disposto a pagar bem mais por cada pedaço. Desde o mês passado, um movimento de mudanças no mercado da carne começou a apresentar seus reflexos no preço pago pelo consumidor da proteína animal. Em Salvador, há 15 dias, os valores nas prateleiras vêm mudando e tem carne custando até 35% a mais.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em levantamento divulgado na semana passada, o preço da carne teve alta de 8,09% em todo o país. O item, inclusive, foi o que mais influenciou a inflação oficial em novembro deste ano, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O IPCA ficou em 0,51% em novembro, maior taxa para o mês desde 2015 (1,01%).

A alta de preço que começou a afetar o bolso do consumidor é fruto de um movimento que já dura mais de um ano. E o culpado por isso tem endereço do outro lado do mundo: a China. O país asiático tem importado mais do que o normal e desequilibrado o mercado interno. O que começou longe, acabou impactando diretamente no bolso dos baianos. O CORREIO percorreu açougues e frigoríficos e foi possível encontrar, por exemplo, o quilo de filé mignon, que já foi vendido a R$ 29, custando R$ 40. A picanha, que já custou R$ 49, está saindo por R$ 70.  

Exportação 
A diferença no valor final é explicada por uma necessidade de exportação que os produtores brasileiros precisaram suprir.

“A China concentrava 48% da suinocultura do mundo e a carne suína era base por lá. Acontece que os animais foram abatidos por uma peste e o país precisou importar”, explica Marcelo Plácido, presidente do Sindicato das Indústrias de Nutrição Animal da Bahia (Sindinutri). 

Ainda segundo Plácido, os chineses vêm sofrendo, desde agosto de 2018, com a chamada peste suína africana que acabou abatendo 50% de seus animais e gerando um déficit de proteína animal. A doença está espalhada, também, em outros 50 países e foi o que acabou gerando a necessidade de importação.

Diante da grande procura, o Brasil acabou incrementando os números relativos à exportação de todas as proteínas animais. Segundo dados do Sindinutri, no acumulado dos primeiros nove meses do ano, a exportação de carne suína cresceu 21,1%. Para o frango, o aumento foi de 5,7% e para a carne 9,2%. 

Como o aumento começou pela carne de porco, o impacto não foi tão sentido pelo consumidor daqui. “O consumo brasileiro de carne suína é relativamente baixo, então esse aumento não chegou a causar um desabastecimento. Só nos últimos 60 dias é que explodiu a importação de carne bovina pela China”, explica Marcelo.

Recuperação
O aumento da exportação da carne brasileira representou também uma tentativa de recuperação do setor.

“Com a crise que a economia passou, as pessoas não tinham dinheiro para comprar carne. Havia oferta, mas não tinha consumo e como a exportação era pequena, a carne estava sobrando”, explica o produtor e gestor da Captar Agro, Almir Moraes. 

Almir relata que, antes da demanda extra, o Brasil exportava 20% do que era produzido e o restante servia para alimentar o mercado interno. “Com esse problema na China e o aumento da exportação, deu uma enxugada no mercado interno. Como procura e demanda que definem o preço, então o mercado tentou compensar os prejuízos da crise”, afirma. De acordo com o produtor, o país passou a exportar por volta de 30% a 35% do que produz. 

A tentativa de suprir perdas da crise, segundo ele, fez com que o preço da arroba no mercado interno subisse até R$ 225. Externamente, o valor da arroba chegou a alcançar R$ 240. “Agora acredito que atingimos um equilíbrio nesse valor”, diz ele. Atualmente, a arroba está sendo comercializada a R$ 200 e R$ 220, nos mercados interno e externo, respectivamente.

O produtor também apontou a entressafra como outra razão para a elevação do preço. “Estamos na entressafra e isso também atrapalha. O boi de pasto está magro nessa época e só o criado em confinamento é que pode suprir a demanda agora”, esclarece. 

O motivo foi o mesmo apontado pelo presidente Jair Bolsonaro, na última segunda-feira. Em um vídeo transmitido no Facebook, Bolsonaro afirmou que a combinação da entressafra e do aumento da exportação causaram o encarecimento.

“Estamos numa entressafra. É natural nessa época do ano a carne subir por volta de 10%. Subiu um pouco mais devido às exportações”, disse. 

Consumo

A carne mais salgada tem afetado os hábitos de consumo dos baianos. “A carne de boi é a carne mais cara e acaba sendo balizador do preço das demais, porque se o frango ou o porco sobem demais tem dificuldade de competitividade. Quando a carne sobe, e as pessoas vão buscando substituições, isso faz com que os outros preços também subam”, conta Plácido.

Esse movimento de compensação acaba modificando o preço de todas as proteínas. “Aumentou tudo e a gente vai mudando para o que dá pra pagar, para o que aumentou menos, mudando o tipo da carne, vendo o que dá pra fazer”, conta a psicóloga Fabiana Leite, 41. 

A solução em substituir o alimento é a preferida entre os consumidores. Responsável por gerenciar um frigorífico no bairro de Brotas, Tatiana Oliveira conta que é comum o cliente “mudar de ideia” na hora da compra. “Muitas vezes o cliente chega aqui pensando em comprar uma picanha e, na hora que vê o preço, decide levar uma outra peça mais em conta”, revela. 

Outra tática é velha conhecida: a pechincha. O motorista Elinton Ramos, 45, foi a um açougue na Vasco da Gama para comprar o material para um churrasco de formatura. Ele encheu o carrinho com produtos que somavam R$ 400. Percebendo o aumento, tentou compensar na negociação. “Pela quantidade que eu comprei, vou tentar negociar com o gerente”, garante. Quando não está se preparando para um evento, o motorista conta que o alto preço da carne acaba gerando alterações na rotina de consumo.

“A gente também procura outras alternativas, eu mesmo comprei algumas carnes no interior, porque é mais barato, já deixei de comprar em alguns momentos também”, conta ele. 

É possível substituir a proteína na alimentação

Já que a carne está mais cara e o aumento do preço atingiu não só a proteína do boi, mas também a do frango e do porco, o que fazer para manter uma alimentação saudável se o novo preço não couber no bolso? “Existe um mito de que a proteína animal é a única fonte proteica, quando na verdade, os vegetais, quando consumidos em variedade, proporcionam uma maior quantidade de proteína, até com maior absorção”, explica a nutricionista Bruna Silveira. A profissional deu algumas dicas para quem quer substituir a carne e economizar.

  • Grãos: Os grãos como feijão, lentilha, quinoa e grão de bico podem ser boas fontes de proteína. O ideal é que pelo menos em uma refeição por dia haja consumo de um tipo de grão.
  • Vegetais verde escuro: O espinafre, por exemplo, é uma boa fonte proteica. Para não perder a fonte de nutrientes, o ideal é ser consumido cozido a vapor. 
  • Soja: É uma ótima fonte de proteína e um alimento coringa que pode ser preparado de diversas formas. É um alimento que só depende da criatividade de quem come.
  • Amendoim: É um alimento que se fala bastante, boa fonte de proteína e bastante acessível. 
  • Atenção à quantidade:  As quantidades necessárias variam de acordo com cada indivíduo e são influenciadas por questões como peso, altura, se a pessoa tem alguma doença de base entre outras coisas. Não há uma determinação de forma geral.

Fonte: Correio horas

Redação

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