Comportamento

A resistência negra no cenário catuense evidenciada pelo artista Diego Marthinelly

Os negros são a maioria da população do país, mas ainda há preconceito  e as barreiras sociais a serem vencidas são inúmeras. O dançarino Diego Marthinelly é um exemplo de luta e resistência nos dias atuais

O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro em todo o país. Além de destacar a luta negra, o objetivo da data é trazer a uma reflexão sobre a importância do povo e da cultura africana no Brasil. Também serve para analisar o impacto os negros tiveram no desenvolvimento na identidade cultural no país. A música, a política, a religião e a gastronomia entre várias outras áreas foram intrinsecamente influenciadas. É um dia de comemorar e valorizar a cultura afro-brasileira.

No último censo do IBGE entre 2012 e 2016, o número de brasileiros que se autodeclaram pretos aumentou 14,9% no país. No mesmo período, também cresceu a quantidade dos que se consideram pardos, enquanto diminuiu o percentual de brancos na população. A população saltou para 205,5 milhões de habitantes (aumento de 3,4%), e os brancos deixaram de ser maioria, representando 44,2% (queda de 1,8%). Os pardos passaram a representar a maior parte da população (46,7%) –aumento de 6,6%– e os Negros são agora 8,2% do total de brasileiros. Entretanto, apesar desses números, o preconceito racial faz parte da vida de milhões de brasileiros. Por mais que grande parte da população seja composta por afrodescendentes, essa é a realidade de inúmeros brasileiros.

Quem é vítima de preconceito, pode levar o trauma para o resto da vida, mas, por outro lado, há aqueles que fazem disso um trampolim para sua vida.

Diego dos santos pinheiro, conhecido como ‘Diego Marthinelly’, é um exemplo de alguém que passou por cima do preconceito e não se intimidou com os olhares discriminatórios. O artista é muito conhecido por catuenses e baianos de maneira geral, costuma levar alegria por onde passa.

Filho de Luzia Alves Dos Santos e Valdemar Pinheiro (In Memorian) nasceu em 06 de março de 1994, sendo criado com seus 11 irmãos, 5 já falecidos, e começou a atuar na dança aos 7 anos de idade. Diego conta que na época, era conhecido como ‘ jacaré’, pois dançava em grupos de dança de bairro, e se inspiravam no grupo  ‘É o Tchan’.

Em 2014, o dançarino começou a participar da oficina de dança da casa da cultura de Catu, que tinha como ponto forte a dança afro, e relata que pegou gosto pelo estilo. “Fiz várias apresentações nas escolas no mês de novembro, mês da consciência negra, representando ‘ Zumbi’ o comandante guerreiro; e nessas apresentações, fez a tão esperada por todos os alunos a dança do fogo, representando o orixá xangô, (segundo a religião do Candomblé), o deus do trovão e da justiça.

 Diego Marthinelly, conta que a sua inspiração pela dança veio da infância, mas hoje, algo incrementou essa sua vontade de dançar “Atualmente minha inspiração maior é a dança afro, é onde eu me encontro e liberto meus sentimentos pelo poder da musica, o que me faz seguir nessa área é o amor por essa arte, pela música e o toque que ela traz, cada batida pra mim tem um significado inexplicável, não posso deixar de pontuar, que o que me fez seguir nessa área foi ver a minha amiga “Negra Jhô,” dançando e bailando por onde ela passa, ela é um orgulho negro de Salvador e região”. Pontuou.

O Trabalho de Diego ganhou grande repercussão; ainda no seu discurso ele conta que passou por diversas experiências, e relatou duas que marcaram sua vida. “A mais marcante foi ser convidado para dançar na feijoada da Negra Jhô no pelourinho a mais famosa de Salvador, no mês setembro desse ano de 2018. Convite feito por ela mesma, onde realizei um sonho ao dançar ao lado dela e da rainha Cláudia Matos. Também não poderia deixar de falar sobre um projeto que participei digno de muito amor, na escola de Tia Margô “Projeto sem saúde não há vida” onde fui recebido com muito carinho por todos presentes, recebi tanto amor mesmo que os alunos me apelidou como “Doutor Zumba”. Destacou.

    

Atualmente, Diego Marthinelly, dar aulas de zumba no espaço ACEC, da oficina de dança municipal, Catu-Ba, todas às segundas e quartas, nos horários da manhã e tarde. Ao longo da sua vida, Diego dançou com algumas celebridades e fez questão de ressaltar as que marcaram a sua vida e contribuíram com a sua carreira: “Eu não poderia deixar de citar essas celebridades que tanto contribuíram para eu chegar ate aqui, são elas ‘ Claudia Matos, Rainha Do Afro Muzenza Do Reggae; Siry Brasil, Rei Vitalício Do Muzenza; Wesley Veroli, Príncipe Do Muzenza”. Destacou.

  História de Zumbi

No período do Brasil colonial, Zumbi simbolizou a luta do negro contra a escravidão que sofriam os africanos. Zumbi morreu enquanto defendia a sua comunidade e lutava pelos direitos do seu povo. O Quilombo dos Palmares, localizado no atual estado de Alagoas, liderado por Zumbi, formavam a resistência ao sistema escravocrata que vigorava. Ali os negros escravizados recuperavam sua liberdade, preservavam a cultura africana na colônia e viviam do plantio e do comércio realizado com cidades próximas.

O assassinato de Zumbi o transformou num mito entre os africanos escravizados e sua história foi passando de geração em geração. Zumbi lutou até a morte contra a escravidão, que só terminaria em 13 de maio de 1888, com a abolição oficial da escravatura no Brasil, cerca de 193 anos após sua morte.

Origem do Dia Nacional da Consciência Negra

O Dia da Consciência Negra foi estabelecido pelo projeto Lei nº 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. No entanto, apenas em 2011 a presidente Dilma Roussef sancionou a Lei 12.519/2011 que cria a data, sem obrigatoriedade de feriado, mas para cerca  de mil municípios é um feriado esperado.

 

 

Edição de Texto e Produção: Donaire Verçosa

Reportagem: Kaila Moitinho