MULHERES GANHAM VOZ E ESPAÇO NA POLÍTICA
Pesquisa do IBGE revelou que a maior parte da população brasileira é formada por mulheres. A força feminina tem crescido e preenche cada vez mais espaço em cargos gerenciais, executivos e políticos
Um ranking mundial avaliou o número de mulheres ocupando cargos políticos em 138 países. O Brasil ficou na 115ª posição. A pesquisa foi realizada pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI), baseado no servidor de dados do Banco Mundial (Bird) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Com 51% da população brasileira composta por mulheres, o estudo sinaliza que a participação feminina na política brasileira cresceu 87%, entre janeiro de 1990 e dezembro de 2016.
Atualmente, o congresso nacional tem 54 deputadas federais e 13 senadoras, totalizando 67 parlamentares. Ainda de acordo com os dados, o Brasil, que tem 40% da chefia familiar sendo assumida por matriarcas, tem potencial para elevar a sua presença no sistema político.
No estado da Bahia, onde existem 130 mil mulheres a mais que homens na população, essa dificuldade de integração ainda é alta. Em 2015, dos 64 deputados estaduais, apenas sete eram mulheres, evidenciando assim a fraqueza do poder na inclusão das senhoras nas cadeiras políticas.
Em Catu, a situação não é diferente. Dos treze cargos, apenas três mulheres ocupam cargos na casa legislativa desde a última eleição municipal de 2016. Obtendo 851 votos (2,69%), a assistente social Denize Barbosa da paróquia (PSDB), foi eleita para o primeiro mandato, sendo a segunda vereadora mais votada no município. Para ela, as mulheres estão edificando um novo legado, “estamos construindo um tempo novo e mudando o velho cenário. Posso dizer, que em Catu as pessoas estão dando valor ao ser feminino na vida pública. ”
Denize, que concorreu as eleições municipais pela primeira vez em 2012, e a segunda em 2016, foi eleita como a vereadora mais bem votada do município com 851 votos, pela segunda garante que não é fácil lidar com política diante da força masculina, “não é fácil viver em um mundo onde a conduta patriarcalista é forte. Se nos sentirmos amedrontadas com isso, paramos no caminho. Em todo momento, barramos com projetos e falas machistas que muitas vezes tentam nos desanimar”. Contrapondo essa situação a vereadora garante, “a sensibilidade que a mulher tem é o que a torna diferente, por isso nos impomos para garantir nosso lugar. ”
Recentemente, a vereadora estreou um conselho voltado a mulher onde atua como órgão fiscalizador e garante benefícios e políticas públicas para as cidadãs catuenses. Mãe de duas filhas e vinda de uma família onde a maioria dos irmãos são do sexo feminino, Denize reitera que o que aprende no trabalho emprega na vida, “minhas filhas, me veem como um porto seguro. Elas compreendem e sabem da dificuldade que é ser mulher e driblar tudo isso sem se deixar abalar”. Pontua.
A ex-presidente da câmara de vereadores, a professora Dilza Carvalho (PRB) é também uma mulher à frente do seu tempo. A vereadora que tem antiga participação na administração municipal, reforça que atitudes que querem impor a superioridade por parte do sexo masculino ainda é grande; mas que encontra maneiras de lidar com esse regresso social, “é desafiador e ao mesmo tempo uma honra. Abrir a boca para falar que uma mulher está na administração de uma cidade é gratificante”.
Em 2003, a vereadora marcou história da cidade, ao ser a primeira mulher a presidir a câmara dos vereadores. ‘Pró Dilza’ como é conhecida, também chegou ao executivo como a vice-prefeita da cidade na época. Ela afirma que a política instrui, e se sente inquieta vendo a pouca participação das mulheres e jovens, “o lugar da mulher é onde ela quiser. O país passou por uma crise, e está se restabelecendo aos poucos, daí vemos como somos multifacetadas e corremos atrás de trabalho e de espaço. Agora além de mãe, sou avó, e quero que meu neto saiba que o mundo é igual para todos”. Finaliza.
A também vereadora Clara Sena (Solidariedade), é outro exemplo de empoderamento feminino no município. Casada, e cumprindo o segundo mandato na câmara municipal, ela lamenta a pouca participação da mulher na política e reitera sobre a dificuldade de exercer mandato diante de adversidades como o machismo, “cada dia matamos um ‘leão’. Para mostrar à população e aos nossos pares aqui o nosso valor, a nossa importância para a casa. Na eleição de 2016, fui a única mulher reeleita e sofri quando tentava me impor e fazer com que os meus colegas me respeitassem.” Garante.
Ela afirma também que quando há mulheres nos cargos políticos, as pautas voltadas ao público feminino têm maior avanço, “quando não participamos das discussões, elas deixam de existir e comprometem a vida de muitas trabalhadoras, donas de casa que precisam ter seus direitos assegurados. Precisamos dessa defesa para nos manter firmes na busca por direitos igualitários.”
Recentemente a morte da vereadora Marielle Franco(PSOL) no Rio de Janeiro, ao que tudo indica assinada na noite do dia 14 de março, após sair de uma roda de conversa em um evento denominado “ Jovens Negras Movendo as Estruturas” no bairro da Lapa, acirrou o debate sobre a luta da mulher dentro da política, e na sociedade como um todo.
Nas redes sociais, a vereadora Clara Sena manifestou sua indignação com a barbárie e destacou em entrevista o legado de Marielle. “Tentaram calar a voz de uma parlamentar que lutava pelos direitos humanos, pelas mulheres negras e por mais representação feminina na política, e acabaram despertando um movimento contrário. A luta de Marielle por uma sociedade mais justa, agora mais do que nunca é de cada uma de nós, que conhecemos de perto o quão difícil é ocupar mais espaço no cenário político do país. Mas não vamos desistir. Marielle, PRESENTE, SEMPRE”. Pontuou.
Reportagem Donaire Verçosa e João Vitor Araújo