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ELES NÃO TEM O DIA 19 DE ABRIL

Os povos indígenas foram assenhoreados durante a colonização do Brasil pelos portugueses perdendo sua identidade, espaço físico, cultural e religioso, mesmo nos dias atuais vivem a  margem das conquistas sociais

 

 

Imagine estarmos aqui em nosso “mundo”. Vivendo do nosso jeito, com a nossa cultura, com a nossa língua, religião e costumes e, de repente aportassem em nosso espaço outros povos, que de início se mostrassem amistosos e cordiais, mas que com o passar do tempo à carapuça lhes caíssem e seus verdadeiros interesses viessem à tona?

Os intrusos visitantes da terra do Pau-Brasil escravizaram, aculturaram e dizimaram o índio através das guerras e das suas doenças, as quais os indígenas não tinham ainda um organismo forte para combatê-las. Agora após 517 anos a população indígena continua recluso em pequenas reservas: sem crença, sem língua, sem cultura  e a mercê destes que atualmente se intitulam donos das terras.

A Vânia Maria Losada Moreira no seu artigo Índios no Brasil: marginalização social e exclusão historiográfica diz que na comemoração dos 500 anos do país, foi organizado um movimento de resistência e luta denominado: conferência dos povos indígenas, onde um documento foi redigido com inúmeras reivindicações como a demarcação e regularização de todas as terras indígenas, a retirada dos invasores, a apuração dos crimes cometidos contra esses povos nos últimos vinte anos e, outras providências nas áreas da educação e saúde, pontos essenciais abordados pelo documento da conferência, foi acrescido há uma outra reivindicação aparentemente menos palpável: “que a verdadeira história deste país seja reconhecida e ensinada nas escolas, levando em conta os milhares de anos de existência das populações indígenas nesta terra”.

Infelizmente do que foi proposto no documento muito pouco foi realizado e a marginalização dos povos indígenas só se intensificam no Brasil. A própria Nobel da Paz a guatemalteca Menchó diz que o Brasil é o país que mais negligencia os seus índios no mundo, segundo ela, “os indígenas  são os mais marginalizados da sociedade brasileira e o país se opõe às soluções debatidas no âmbito internacional, permanecendo a nação mais conservadora na concessão de direitos aos índios”.

Cerca de 40% de todas as mortes entre índios brasileiros registradas desde 2007 foram de crianças com até 4 anos de idade, segundo Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). O levantamento também mostrou que em 7 anos, 2365 índios morreram por acidentes ou violência, destes 833 foram vitimas de homicídio tendo o estado do Mato Grosso do Sul o maior número de assassinatos. Os suicídios, por sua vez, foram a causa de 351 mortes de indígenas desde 2007, a região do Alto Solimões, no Oeste do Amazonas, registrou mais casos. Um artigo da pesquisadora Regina Erthal, enfatiza que a principal causa para o agravamento desta situação é o “abandono a que tal população tem sido submetida pelos órgãos responsáveis pela forma definida de implementação das políticas públicas”.

A marginalização social que os verdadeiros donos da terra se encontram perdura há mais de 500 anos, pois estão cerceados a reservas ou pequenas aldeias que sempre sofrem invasões por parte de fazendeiros, grileiros, posseiros, madeireiros ou quaisquer grupos enxerguem ali alguma fonte de riqueza.

A singular cultura indígena em contato com o homem “branco” foi contaminada pela tecnologia trazida com suas comodidades. A carga religiosa trazida com o Cristianismo sufocou as crenças indígenas.

O contato com os hábitos alimentares das metrópoles, também trouxeram prejuízos as comunidades indígenas que sofrem os danos causados pelos alimentos industrializados, além da inserção do álcool e outras drogas em suas comunidades, a diabetes faz parte de uma herança trazida por conta dessa nova forma de alimentação indígena, outrora extraída apenas da natureza.

A urgência em aplicação de políticas públicas que venham garantir o respeito à cultura desses povos para que possam preservar a sua história é notória, assim como, trazer para as diversidades étnicas que hoje compõe este país, que pelos portugueses foi denominado Brasil que em nosso sangue corre o DNA dos índios. Trazer a importância desse povo e não o esquecimento como se faz na escola desde as séries iniciais até a universidade, sem valor, sem lembrança e nem no dia 19 de abril se fala mais do verdadeiro dono da terra Brasilis.

O respeito ao índio deve acontecer em todos os setores da sociedade, pois ele é índio na aldeia e na cidade. Portanto deve se autorreconhecer como tal e compete aos não índios compreenderem e aceitarem, como se faz com os demais grupos étnicos. As autoridades precisam cumprir o seu papel de governar em favor de todos, a própria mídia também tem papel de externar essa visão, não só mostrando tragédias e o Festival de Parintins, mas conscientizando as necessidades desse povo esquecido no contexto atual. A cada cidadão compete o respeito, preservação e apoio ao povo indígena, fazendo com que não só o dia 19 de abril, mas todas as outras datas sejam verdadeiramente o dia do índio.

 

 

 

 

Historiador Apoena Julio da Silva Araújo

Graduado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:ERTHAL, R. M. C., 1988. O Suicídio Tikúna na Região do Alto Solimões – AM. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz.

MOREIRA, Vânia Maria Losada. O Índio e a “formação do Brasil contemporâneo”. Revista Universidade Rural. Série Ciências Humanas (cessou em 2007. CET.ISSN 2175-1196 Ciências Humanas e Sociais em revista), v. 29, p. 26-38, 2007.

MOREIRA, Vânia Maria Losada. Índios no Brasil: Marginalização Social e Exclusão Historiográfica. Diálogos Latino americanos. V. 3, p. 87-113, 2001.

Redação

1 comentário sobre “ELES NÃO TEM O DIA 19 DE ABRIL

  • Parabéns a Apoena Julio da Silva Araujo pelo belo texto mostrando a nossa triste realidade.

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