Do sonho ao apito: a trajetória inspiradora de Bruno Paixão, orgulho negro do esporte catuense
Negro, periférico e determinado, ele transformou o sonho da adolescência em uma carreira de referência na arbitragem, inspirando jovens e celebrando o Dia da Consciência Negra com uma história de superação e pertencimento.

No Dia da Consciência Negra, Catu celebra a história de um dos seus grandes talentos: Bruno Paixão, um jovem que transformou o sonho simples de participar do futebol em uma carreira sólida, respeitada e admirada dentro e fora da Bahia. De menino negro da Rua Nova ao quadro da CBF, sua jornada é um retrato da força, persistência e representatividade.

Criado pela avó — a quem ele carinhosamente chama de mãe — e pelos tios, Bruno carrega na memória o amor e a educação que recebeu em casa. Foi com eles que aprendeu a enxergar o mundo com gratidão, responsabilidade e coragem. Hoje, casado e vivendo com a esposa e a enteada, ele honra cada passo dado até aqui.

Seu sonho começou cedo, aos 16 anos, quando acompanhava o tío nos tradicionais babas dos coqueiros, na Associação Atlética da Amizade. Era madrugada de domingo, e enquanto muitos ainda dormiam, Bruno já respirava futebol. O primeiro convite foi simples: ser gandula. Mas ali, pegando bolas, observando o jogo e ganhando alguns minutos no final das partidas, nasceu sua paixão pelo apito.


Incentivado pelo primo Dinho e por Louro, ambos árbitros, recebeu um dia a chance de comandar sozinho uma partida. “Gostei na hora”, lembra. O passo seguinte foi se profissionalizar. Ingressou na Associação Desportiva de Árbitros de Catu em 2011, estudou as regras, se dedicou e, anos depois, foi indicado para a Federação Bahiana de Futebol (FBF), onde fez o curso de arbitragem entre 2015 e 2016.
Sobre as pessoas que o ajudaram nessa caminhada, Bruno faz um agradecimento especial: minha indicação a Federação Baiana pela liga desportiva de Catu veio através de Jackson Conrrado, o presidente da liga, e assim pude fazer o curso de arbitragem, tendo todo apoio para fazer curso e sou muito grato a ele por tudo, fora várias pessoas que me deram suporte, sou grato à todos.” Ressaltou.
O talento do jovem catuense, hoje com 33 anos, chamou atenção. Vieram jogos profissionais da Série A e B do Campeonato Baiano, viagens por diversos estados brasileiros e, em 2023, a tão sonhada indicação para o quadro de árbitros da CBF, onde permanece como árbitro assistente. Já atuou em partidas do Campeonato Brasileiro de Base, Séries C e D, passando por São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Pernambuco, Maranhão, Ceará e diversas cidades da Bahia.

Coml a maioria dos árbitros Bruno tem um ofício paralelo para poder se manter, é balconista há 06 anos na Farmácia Ultra Popular em Catu-BA, é conhecido também pelo seu carinho e atenção com os clientes além de participar de algumas publicidades da drogaria.
“Por que árbitro e não jogador?”
Bruno responde com naturalidade:
“Mesmo com todas as reclamações que existem na arbitragem, eu sei que sempre inspiramos alguém. Aplicar as regras, manter o jogo justo… isso também é fazer o futebol acontecer.”
Inspirar novas gerações
Para ele, seguir um caminho diferente não é desvio, é missão:
“Mesmo indo na contramão da maioria, eu sei que alguém se inspira no que faço. Isso me fortalece.”

Sobre racismo no futebol
No Dia da Consciência Negra, Bruno reforça a importância da luta:
“O racismo ainda existe em todos os lugares, principalmente no futebol. A cada ano, as punições precisam ser mais rigorosas para termos um espetáculo melhor.”
Ele nunca sofreu discriminação diretamente, mas carrega consigo uma frase que representa a essência da arbitragem e o espírito deste dia:
“Somos todos iguais. Respeito: essa é a regra.”

