“Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”: um chamado à construção de nova consciência sobre a longevidade
O tema da redação do ENEM 2025, anunciado como “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, abre espaço para que milhões de estudantes reflitam sobre as transformações demográficas, os desafios e as oportunidades que a crescente longevidade impõe à sociedade.
Mais do que cumprir a exigência formal de produzir um texto dissertativo-argumentativo, o exame propõe: como cada geração, cada família e cada política pública devem se preparar para uma “nova pirâmide etária” no Brasil.
O Brasil vive uma transformação significativa em sua estrutura etária: o número de pessoas com 65 anos ou mais tem crescido rapidamente, o que altera não apenas o perfil familiar, mas também as demandas por saúde, previdência, mercado de trabalho, moradia e participação social.
Em face dessa tendência, abordar o envelhecimento tornou-se urgente — e a escolha do tema no ENEM aponta para isso. Para surresa de muitos que apostavam em temas mais tecnológicos com a Inteligência artifical, o ENEM escolheu um tema social que segue a linha de assuntos abordados em avaliações anteriores, que se assemelham a abordagens que incentivam a reflexão sobre as mudanças sociais e comportamentais.
A escolha do tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira” também tem gerado debates importantes entre especialistas, que apontam o acerto do ENEM em trazer à pauta questões atuais como as violações de direitos contra pessoas idosas, ainda recorrentes no país. Para estudiosos da área, o exame deste ano contribui para ampliar a consciência social sobre o envelhecimento e reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à proteção e valorização dessa população. Coincidentemente, o número de idosos inscritos no exame deste ano de 2025 cresceu mais de 200% em relação ao ano anterior — um dado simbólico que mostra não apenas o interesse dessa faixa etária em continuar estudando, mas também o impacto que o tema pode ter na promoção do respeito, da inclusão e da aprendizagem ao longo da vida.
Por que esse tema?
A escolha de “envelhecimento” como tema para a redação não é aleatória. Algumas razões centrais:
• Permite articular a atual realidade brasileira com projeções futuras: trata-se de uma mudança estrutural da sociedade, não apenas de casos pontuais.
• Exige do estudante não só conhecimento empírico, mas consciência crítica: por exemplo, discutir preconceito etário (o etarismo), redes de cuidado, trabalho dos idosos, financiamento de políticas públicas, convivência intergeracional.
• Favorece a construção de repertório social, cultural e político: os textos motivadores da prova contêm dados, reflexões literárias e infográficos (por exemplo, gráfico de idosos que mantêm domicílios) que ampliam o recorte para além do simples “velho = problema”.
• Incentiva a formulação de soluções — requisito chave da prova: o candidato precisa não só diagnosticar o problema, mas propor intervenção viável, respeitando os direitos humanos.
Recortes possíveis para abordagem no texto
• Mercado de trabalho e longevidade: como as empresas, o Estado e a sociedade organizam o emprego ou o “trabalho após 60 anos”?
• Saúde, bem-estar e envelhecimento ativo: políticas de prevenção, promoção da saúde, adaptações urbanas, espaços de convivência.
• Família, gerações e convivência: o que muda nas relações entre jovens, adultos e pessoas idosas? Qual o papel dos idosos nas famílias, na economia informal, no cuidado doméstico?
• Previdência e financiamento público: impactos do envelhecimento para o sistema de previdência, para a política fiscal, para serviços sociais.
• Combate ao etarismo e valorização do envelhecimento: tratamento da velhice como fase ativa, direitos da pessoa idosa, participação social.
• Infraestrutura urbana e acessibilidade: moradia adaptada, mobilidade, tecnologia assistiva, redes de suporte comunitário.

Importância para a construção de nova consciência
O tema ajuda a promover uma “nova consciência” em vários níveis:
• Individual: leva o jovem (ou qualquer cidadão) a imaginar seu próprio envelhecimento, e a pensar nos vínculos intergeracionais.
• Social: aponta para a necessidade de reconhecimento da pessoa idosa como sujeito de direito, protagonista de sua história, e não apenas como “paciente” ou “ônus”.
• Político/estrutural: evidencia que a sociedade terá de repensar suas estruturas — serviços públicos, políticas urbanas, trabalho, previdência — para se adequar a uma demografia diferente.
• Cultural: muda o paradigma de envelhecimento: de “inevitável declínio” para “fase com possibilidades”, mantendo participação, autonomia, respeito.
Relação com a inversão da pirâmide etária
Historicamente, a pirâmide etária brasileira tinha formato tradicional: base larga (jovens) e topo estreito (idosos). Mas com a queda da natalidade e aumento da longevidade, essa pirâmide se “achatou” e começa a se inverter — ou seja, a proporção de pessoas idosas cresce em relação à população jovem. Esse fenômeno exige adaptações profundas.
Ao tratar esse tema no ENEM, o exame não apenas testa habilidades de redação, mas também direciona o debate nacional para um desafio demográfico de longo prazo: como vivermos bem num Brasil que envelhece? Como integrar idosos e jovens, como garantir serviços, como evitar que o envelhecimento seja sinônimo de exclusão ou dependência?
Dicas para aproveitamento da pauta (para jornalistas e educadores)
• Vale coletar dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre envelhecimento e projeções demográficas.
• Entrevistar especialistas em gerontologia, políticas públicas, economia da longevidade.
• Apurar casos locais: como os municípios estão se preparando para o envelhecimento da população?
• Fazer recortes regionais: em estados como a Bahia (onde você atua) — qual é o impacto específico? Quais iniciativas já existem?
• Ressaltar boas práticas: iniciativas de convivência intergeracional, programas de empregabilidade para idosos, adaptações urbanas.
• Refletir sobre o papel dos jovens: afinal, o tema da redação do ENEM envolvia jovens escrevendo sobre o envelhecimento — como esse olhar pode produzir empatia e mudança?
A escolha do tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira” para a redação do ENEM 2025 marca uma sinalização clara de que o exame busca mais que a reprodução de repertório: ele exige reflexão crítica sobre um país que envelhece, com urgência crescente. Em última análise, não se trata apenas da pessoa idosa “lá na frente”, mas do agora: da transformação da matriz social e cultural brasileira.

