Saúde

Mulher com endometriose no coração achava que estava tendo um infarto

Quando a endometriose vai além do útero: entenda como a doença pode afetar até o coração


Mesmo após a retirada do útero, a endometriose pode continuar agredindo o corpo da mulher. Casos raros, como o da paciente diagnosticada com lesão no pericárdio — a membrana que envolve o coração —, revelam que o tecido semelhante ao endométrio pode migrar e se desenvolver em órgãos distantes, devido a fatores embrionários e hormonais que tornam a doença sistêmica e complexa.

A endometriose, tradicionalmente associada ao útero, é uma doença crônica que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva. Caracteriza-se pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio fora do útero, geralmente atingindo órgãos da pelve como ovários, trompas e intestino. No entanto, casos raros mostram que a doença pode ultrapassar os limites da cavidade pélvica e afetar até órgãos vitais, como o diafragma, os pulmões e o coração.

Um desses casos foi o da brasileira Franciele Renata Drummond, de 41 anos, diagnosticada com endometriose no pericárdio — o tecido que envolve o coração. Após 26 anos de sintomas e tentativas frustradas de diagnóstico, ela foi submetida a uma cirurgia robótica em São Paulo para remoção da lesão, em um procedimento de alta precisão.

Duas décadas de dor

Franciele conviveu por 26 anos com dores e sintomas que foram, por muito tempo, interpretados como ansiedade ou problemas cardíacos. Segundo ela, a dor vinha à noite, quando se deitava. Em entrevista a uma reportagem no site metrópoles, ela falou sobre as dores que vinha sentindo:

“Era uma sensação de inflamação nas costelas, uma queimação que às vezes latejava. O coração acelerava, eu sentia uma taquicardia que me fazia pensar que estava tendo um infarto. Cheguei a ouvir que era coisa da minha cabeça, porque todos os exames cardíacos davam normais”, conta.

Segundo o ginecologista e especialista em endometriose Igor Chiminacio, a explicação para essas manifestações fora da pelve está em uma origem embrionária da doença. Durante o desenvolvimento fetal, fragmentos de tecidos que formariam o útero podem migrar para outras regiões do corpo e permanecer ali adormecidos por décadas. Esses fragmentos, ao serem ativados por hormônios ao longo da vida, podem causar inflamações e dor, mesmo após cirurgias como a histerectomia (retirada do útero).

Por isso, especialistas reforçam que a endometriose não é uma doença exclusivamente ginecológica, mas sim uma condição sistêmica, capaz de atingir diferentes órgãos e provocar sintomas atípicos — como dores no peito durante o período menstrual, falta de ar ou até tosse com sangue.

O avanço de tecnologias como a cirurgia robótica tem permitido tratamentos mais seguros e eficazes em casos de difícil acesso, como o de Franciele. A paciente se recuperou bem após o procedimento e relatou alívio e gratidão por finalmente entender a origem de uma dor que a acompanhava há décadas.

Casos como esse reforçam a importância do diagnóstico precoce e da ampliação dos debates sobre a endometriose — uma doença ainda subdiagnosticada, que pode continuar agredindo o corpo da mulher mesmo após o útero ser removido.