São Sebastião do Passé: em ato histórico, Mãe Nany conduz estudante no retorno ao Colégio Polivalente após tratamento espiritual

Seguindo os passos de Pai Bené, a mameto fortalece o legado de luta contra o racismo religioso.

A mameto Jorgiane Argolo (Mãe Nany de Lambaranguange), filha do saudoso tateto Benedicto Argolo e líder do Terreiro Onzo Matondo Tata Nzambi, protagonizou um ato histórico de acolhimento e de luta contra o racismo religioso em São Sebastião do Passé (BA).

A líder religiosa conduziu o filho de santo, o estudante Artur, até o Colégio Estadual Polivalente Monsenhor Luiz Ferreira de Brito, no Centro, após um tratamento espiritual. A iniciativa, inédita na cidade, garantiu não apenas o retorno do aluno às atividades escolares, mas teve um caráter educativo e de conscientização.

A presença da mãe de santo no ambiente escolar abriu espaço para uma conversa franca com a equipe gestora, professores, funcionários e estudantes, reforçando a importância de uma escuta sensível às diferentes expressões de fé. A iniciativa foi recebida com atenção e respeito pela comunidade escolar, que demonstrou compromisso com uma educação antirracista e inclusiva.

MOTIVO DE ORGULHO – A comunidade do Terreiro Onzo Matondo Tata Nzambi celebrou a relevância do momento e a demonstração de responsabilidade social de Mãe Nany: “Foi a primeira vez que presenciamos uma Mameto levar seu filho de santo até a escola após um tratamento espiritual. Esse gesto não é apenas um ato de carinho, é uma ação política que afirma o direito à liberdade religiosa e combate ao racismo estrutural”, afirma a nota do grupo.

“Foi emocionante presenciar a escola se abrir ao diálogo, ao entendimento e à valorização das tradições afro-brasileiras. Isso demonstra um compromisso genuíno de todos os envolvidos com a educação inclusiva e com os direitos humanos. Amamos muito a senhora, Mameto Nany. Somos candomblecistas com muito orgulho!”, finaliza a nota.

LEGISLAÇÃO – O afastamento de estudantes para tratamentos espirituais no Candomblé é amparado por um conjunto de leis que garantem a liberdade religiosa e a proteção contra a discriminação. A Constituição Federal de 1988 assegura a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, garantindo o livre exercício dos cultos religiosos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) orienta o respeito à diversidade cultural e religiosa no ambiente escolar, promovendo o reconhecimento e acolhimento das diferentes práticas de fé. Além disso, a Lei nº 10.639/2003 torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira em todas as etapas da educação básica, valorizando as tradições religiosas de matriz africana, como o Candomblé.